quarta-feira, 27 de agosto de 2008

Qual a melhor plataforma de jogo?

Nessa semana fui questionado por um amigo de um grande site de futebol sobre a declaração de um treinador brasileiro em que este dizia ser o 1-3-5-2 um “esquema” (palavra do treinador) mais fácil de jogar. Segue a resposta que encaminhei a esse amigo:

“Ainda não há um consenso entre os profissionais do futebol quanto à plataforma de jogo (e por plataforma entenda a distribuição numérica entre os setores - 1-4-4-2, 1-3-5-2, 1-4-3-3, etc. - sem considerar a dinâmica adotada pela equipe) mais eficiente independentemente da situação encontrada pelo treinador. O português José Mourinho utiliza o 1-4-3-3 no início do seu trabalho com as equipes que trabalha (foi assim no Porto, no Chelsea e em seu primeiro jogo oficial pela Inter de Milão também jogou nessa plataforma). Ele acredita que a distribuição equilibrada por setores do campo dos atletas que o 1-4-3-3 permite, acelera o processo da construção de uma forma de jogar coletiva que seja competitiva. Isso acontece pela assimilação mais rápida por parte dos atletas quanto aos objetivos traçados.
Muito comum no Brasil, o 1-3-5-2 é menos utilizado pelas equipes fora do nosso país (vemos ainda equipes italianas médias e pequenas jogando nessa plataforma), pois nesse momento as plataformas com 4 jogadores na linha defensiva são as preferidas pelos treinadores estrangeiros.
Essas diferentes opções são resultado de conceitos diferentes sobre o jogo. Treinadores brasileiros usam em sua maioria a marcação mista (o jogador marca o adversário que jogar dentro da sua área de atuação, a referência da marcação é o adversário) enquanto os europeus (principalmente) optam por jogar marcando por zona (tendo como referência a bola e o espaço).
Portanto preferir o 1-3-5-2 jogando no Brasil faz todo o sentido, pois as equipes jogam normalmente com dois atacantes facilitando o encaixe no adversário (3 zagueiros para 2 atacantes, ala bate com lateral adversário, volante marca meia, meia marca volante e atacantes marcam zagueiros). E jogar nas plataformas 1-4-3-3, 1-4-4-2, 1-4-5-1 (com todas as variações de distribuição de atletas que essas plataformas permitem) sempre com linha defensiva de 4 jogadores na Europa, onde se marca preferencialmente por zona também se justifica, porque atende a outras necessidades do jogo como por exemplo de se ocupar melhor toda a largura do campo.
Concluindo, a opção por esta ou aquela plataforma depende da filosofia de trabalho do treinador, dos conceitos que este tem sobre o jogo e da característica do grupo de atletas.
Não há evidências científicas comprovadas por pesquisas que existe efetivamente uma plataforma mais vencedora que outra. E ter sua assimilação mais facilitada não é suficiente para que uma plataforma se justifique, ela precisa apresentar resultados práticos, que nesse momento parece ter mais relação com a sistematização de um sem número de dinâmicas dentro dela.”


Confira a coluna completa no site Cidade do Futebol


Leandro Zago

segunda-feira, 18 de agosto de 2008

Coluna no site “Futebol Interior”

No dia 15/08/2008, o colunista Vitor Calça Pereira escreveu a seguinte crônica. Agradeço aqui publicamente pelas palavras (já o fiz pessoalmente) e espero poder continuar atendendo as expectativas das pessoas que acompanham o Futebol Tático. Segue o texto abaixo:

Treinadores do futuro - dois nomes

Um amigo brasileiro á muito radicado em Portugal e fiel leitor das minhas crónicas do “ Futebol Interior “ tinha lançado o desafio há já algum tempo: “ fale aí dos técnicos do Brasil, o que eles sofrem com o assédio dos clubes europeus aos seus atletas em pleno campeonato ” .

Sobre a acção devasta que os clubes europeus ( e não só ) fazem ao desfalcar o elenco de um grupo de trabalho de um técnico de um time brasileiro já eu escrevi há algum tempo.

Tento dar o merecido destaque ao excelente trabalho que os treinadores brasileiros executam nos diversos campeonatos da Europa. Este ano estou especialmente atento á carreira de Ricardo Gomes ao leme do Mónaco em França.

É claro que temos Luiz Filipe Scolari no Chelsea, falta definir a situação de Zico. Quem mais ? Casemiro Mior no Belenenses e Lori Sandri que substitui o compatriota Sebastião Lazaroni no comando do Marítimo da Madeira.

Mas estes são nomes conhecidos por quase todos nós. Scolari será sempre um nome falado para um grande time da Europa ou Brasil.

Mas se tiver em causa o futuro, a evolução do atleta ,e conseqüentemente do jogo, se por hipótese um dirigente mais iluminado e á frente no seu tempo resolver apostar a longo prazo ( se isso existe em Futebol ) qual o nome que escolheria para o meu clube?

Destaco dois nomes de jovens técnicos brasileiros, dos quais tento ler tudo o que escrevem, e as suas reflexões são sobretudo sobre as suas ideias de Futebol.

Sempre que leio o que Leandro Zago e Rodrigo Leitão pensam sobre o jogo, aprendo um pouco mais sobre complexo jogo que é o futebol.

Leiam em “www.futeboltatico.com” e “www.cidadedofutebol.com.br” e confirmem que não me engano. É devido á sua qualidade que acredito sem receios que o futebol vai continuar a crescer.


Saudações e um Abraço Lusitano

Clique aqui e confira a coluna no Futebol Interior


Leandro Zago

sexta-feira, 8 de agosto de 2008

O Sistema de Transições no Futebol

“Temos ainda que caminhar bastante no entendimento, na

sistematização dessas coisas, no sentido de perceber as suas

conexões e de entender o Jogo como um fluxo contínuo.”

(Júlio Garganta)

Pertencente ao grupo dos Jogos Desportivos Coletivos (JDC), o futebol tem na sua essência quatro momentos que estão presentes em qualquer partida que seja disputada e que independem do nível, local ou idade dos praticantes (desde níveis de formação até jogadores profissionais) envolvidos: defesa, transição defesa - ataque, ataque e transição ataque – defesa. A natureza complexa e não linear do jogo não permite que seja prevista a ordem em que esses quatro momentos irão ocorrer, fazendo com que cada partida possua uma linha de progressão única que vai se desenhando de acordo com as respostas coletivas das equipes e individuais dos jogadores aos estímulos do jogo. Essa afirmação vem ao encontro do que escreveu o professor Vítor Frade (2002), “não há nada mais construído que o jogar. O jogar não é um fenômeno natural, mas construído”.

Ou seja, se o jogo vai sendo construído, e os dois momentos de transição são inerentes a ele, temos a possibilidade de preparar nossa equipe durante o processo de treinamento para realizá-las da forma como considerarmos mais adequado. Para Amieiro (2005) “treinar é fabricar o jogar que se pretende”. E para se treinar as transições defensivas e ofensivas são necessários princípios de jogo bem estabelecidos. Quando recupera a bola, a equipe deve saber se é o momento de contra atacar, tirar simplesmente a bola da zona depressão ou alternar entre ambos de acordo com o comportamento do adversário. Ao perder a bola, deve-se definir referências para pressionar o portador da bola rapidamente, reorganizar-se em linhas mais recuadas ou coordenar as duas respostas numa análise rápida da situação que o jogo está propondo.

Treinadores portugueses como José Mourinho e Jesualdo Ferreira concebem os momentos de transição como fundamentais dentro do jogo de futebol. Jesualdo considera que “as equipas terríveis (utiliza terrível para caracterizar equipes difíceis de se enfrentar) são aquelas que diminuem o tempo entre o ganhar a bola e atacar e entre o perder a bola e defender”. Vítor Frade (2002) afirma que para uma equipe atacar com muitos jogadores sem tornar-se desequilibrada deve “dar particular atenção aos timings de transição”. Nota-se nas falas de Jesualdo e Vítor Frade uma preocupação com o tempo no sentido de duração do momento transitório. Assim, na tarefa transição, observa-se o como fazer nos princípios anteriormente citados e o quando fazer (entre o atacar e o defender e vice-versa) da forma mais rápida (e para isso faz-se necessário coordenação coletiva) possível.

Construir uma forma de jogar que seja condizente com as necessidades de se ganhar um jogo atuando de uma forma atrativa – porque para ser eficiente uma equipe não precisa abrir mão de jogar bonito, muito pelo contrário – passa pela sistematização de um processo de treinamento que contemple os quatro momentos do jogo de forma integrada. O modelo de jogo adotado deve racionalizar que as zonas em que busco recuperar a bola com maior freqüência devem estar relacionadas com o tipo de organização ofensiva que pretendo utilizar e que a forma como se realizam as transições defensivas e ofensivas permitem o melhor ou pior funcionamento desse sistema integrado de ações que se sucedem sem uma ordem definida. Por não possuir um comportamento linear, o jogador deve ser capaz de interpretar os acontecimentos do jogo e aplicar uma resposta que esteja baseada nos mesmos referenciais que o restante da sua equipe e isso só acontecerá se durante o processo de treinamento os exercícios pelo grupo vivenciados potencializarem esse sentido coletivo.

Referências Bibliográficas

Amieiro, N. (2005) Defesa à Zona no Futebol: Um pretexto para refletir sobre o jogar ... bem, ganhando! Edição do Autor. 2005.

Frade, V. (2002) Apontamentos das aulas de Metodologia Aplicada II, Opção de Futebol. FCDEF-UP. Porto. Não publicado.

Leandro Zago - CIEFuT